Este texto tem por objetivo responder, de bastante breve, à pergunta que eu mais recebo: qual a diferença entre psicanálise e as outras psicoterapias que procedem pela palavra?
Para isso, utilizo dois textos de Jaques-Alain Miller. O primeiro é um capítulo presente no livro Psicanálise ou Psicoterapia, organizado por Jorge Forbes e publicado pela Papirus. O segundo é uma conferência dada por ele no 3º Congresso da New Lacanian School of Psychoanalysis, em Londres, em 2005.
O Que Psicanálise e Psicoterapias Têm em Comum?
Ambas trabalham por meio da fala, reconhecem a existência de uma realidade psíquica (ou seja, nem todos os problemas do ser humano são de ordem material) e produzem efeitos terapêuticos. Mas, qual é a diferença? Os objetivos e os meios para alcançá-los.
Classificação de Miller sobre Psicoterapias
Segundo Miller, “o princípio da classificação de qualquer psicoterapia é a incidência da palavra do Outro”. O fator chave é a presença de um Outro que define o que deve ser feito, a quem o sujeito que sofre obedece e do qual espera aprovação (MILLER, p.12).
Devido a uma certa padronização do processo analítico, especialmente nos Estados Unidos, surgiu uma “melhor maneira” de viver, que se torna evidente em psicoterapias que priorizam a identificação com o psicoterapeuta. Este, supostamente dotado de um “ego forte”, torna-se o modelo ao qual o paciente, de “ego fraco”, deve se espelhar. Aqui, a pergunta é: quem definiu o que seria um “ego forte”?
O Papel da Psicanálise
Ao questionar “todas as crenças, todos os fins, todas as noções de benefícios”, a psicanálise emerge como uma possibilidade. O analista não assume a posição de detentor do saber sobre a subjetividade do analisando ou sobre a “melhor maneira” de viver. O questionamento surge: “Por que meu analista não me fala o que fazer?”. Se o analista atendesse a essa demanda, ele se colocaria como aquele que tem as respostas, limitando o sujeito ao plano da identificação com uma “melhor maneira”, impedindo que o “sujeito possa encontrar a questão de seu desejo além da identificação” (MILLER, p.15)
O analista não pode prometer felicidade ou harmonia. O que ele pode oferecer é “elucidar o desejo do sujeito. E ajudar a decifrar o que insiste na existência” (p. 18). A operação analítica coloca o sujeito diante de seu desejo para que ele mesmo lide eticamente com isso.
O Que É Terapêutico na Psicanálise?
“O que é terapêutico na operação analítica é o desejo. Em um certo sentido, o desejo é a saúde. Contra a angústia, é o remédio mais eficaz. A culpa deve-se, fundamentalmente, a uma renúncia ao desejo. Mas, paradoxalmente, o desejo é aquilo que é o contrário a toda homeostase, ao bem-estar. Como é compreender uma terapia que não conduz ao bem-estar?” (p.19)
Qual é a Melhor?
A pergunta sobre qual é a melhor só pode ser respondida pela experiência pessoal de cada um.
O Que Fazer com Essas Informações?
Se você está em análise, continue falando livremente em suas sessões. A responsabilidade pelo manejo é do seu analista.
Este texto é uma brevíssima introdução ao tema e não representa uma conclusão definitiva. Para quem deseja aprofundar-se, as referências citadas são um excelente ponto de partida.
Até logo,
Daniel